sábado, 26 de janeiro de 2008

Ah sim as mãos...

Era um desejo antigo.As mãos.Dar as mãos.Só as mãos.Não olhar, não falar, não explicar, não pretender saber nada.Dar as minhas mãos a um desconhecido numa sala de cinema.Ou numa sala de teatro, tanto faz, desde que fosse numa sala pouco iluminada, onde só uma ténue luz encobrisse tudo para poder sentir tudo ainda mais.Sentir tudo através de uma mão.De duas mãos dadas.Dois desconhecidos de mãos dadas.As mãos de dois desconhecidos a contarem histórias uma à outra, a confessarem segredos uma à outra, a entregarem-se uma à outra, a rirem-se uma com a outra, a rirem-se muito, a não terem medo uma da outra nem de nada, a não saberem nada uma da outra, nem do que era aquilo nem do que viria depois, a pousarem uma sobre a outra e a esquecerem juntas este cansaço da vida...Duas mãos segurando-se uma à outra.Duas mãos a dançar.Uma, grande, os dedos compridos, esguios, firmes, a agarrarem a outra com força, a pegarem a largarem e a apertarem e a sentirem suavemente a pele e a apertarem outra vez e a fazerem vibrar todos os nervos do corpo e a darem mil voltas por trás e pela frente e pelos lados, os dedos entrelaçados a abraçarem, a colarem as nossas mãos.E depois as mãos soltas e os dedos a desbravarem os secretos caminhos entre as linhas da vida nas palmas das mãos e os braços e os antebraços a acompanharem a dança.Não é uma valsa.É um tango.Um tango argentino dançado na perfeição pelas mãos de dois desconhecidos.Sem palavra alguma.Nenhuma era precisa.Duas mãos a dançar.Dois estranhos segurando-se pelas mãos.Duas mãos a fazerem amor.As mãos de dois estranhos faziam amor.As mãos faziam amor.Faziam o amor.

Memé Eternamente...

Nenhum comentário: